Introdução ao Método Stanislavski


Stanislavski começou seus estudos de atuação graças a uma inquietação e desconforto que sentia perante atuações não condizentes com os estados naturais do ser humano. Para ele, um ator não conseguia se conectar com o personagem verdadeiramente quando agia de forma tão a-natural, fazendo com que a proposta da peça se perdesse, visto que aqueles personagens não eram sentidos verdadeiramente.

A partir desse ponto, Stanislavski inicia seus estudos sobre uma atuação mais realística, mostrando como o ator pode agir naturalmente, sem exageros, simplesmente sentindo o personagem. Sua metodologia então começa com a ideia de que o ATOR precisa se CONECTAR com o PAPEL, deste modo, ele alcança a vida do personagem e sentir de forma mais natural possível todo aquele ambiente. A proposta do sistema vem para que essa conexão aconteça sempre, e não eventualmente quando “acontecesse” do ator se identificar com o papel.

Para que tal conexão se fazer verdadeira, é necessário que o ator comece por entender a si mesmo, e a partir daí trazer um novo trabalho, o de compreensão da vida do personagem. Deste modo, o ator viverá todos os momentos do personagem, sentindo-o intensamente enquanto este necessitar permanecer debruçado no papel. Stanislavski sintetiza isso na frase:

Representar verdadeiramente, significa estar certo, ser lógico, corrente, pensar, lutar, sentir e agir em uníssono com o papel.

Stanislavski escreveu 7 obras em russo, e 6 delas estão traduzidas para o português, contudo, sua qualidade não é tão boa, visto que foram traduzidas dos exemplares em inglês, que, por sua vez, omitiu e sintetizou vários pontos da obra do autor. Ainda sim, por mais que não tenhamos tão completamente as obras, seu sistema pôde ser esquematizado em nossa língua. O dramaturgo acreditava que o ponto crucial para o ator se manter no personagem era este estar relaxado; tal relaxamento permitiria que as ações fluíssem naturalmente, saindo do seu interior e não apenas gesticulando atos. E, a partir disso ele poderia se atentar ao seu círculo de atenção, ponto fundamental para que o personagem se estabelecesse no ambiente, fazendo-o vivenciar aquele espaço fundamental para sua existência, para só então poder compreender todo o palco.

Stanislavski a esquerda na peça The Lower Depths no Teatro de Arte de Moscou

A importância dessa noção espacial permite que o ator possa expressar suas ações profundamente, trazendo assim seus trejeitos pessoais - pessoais do personagem, não do ator -, fazendo com que o ato de “amar”, por exemplo, seja único e não caricato nem cliché. Para trabalhar essa relação tão particular de vínculo com o personagem, o ator precisa alavancar dentro de sua mente um processo de análise, e Stanislavski utiliza-se muito do “SE”. Essa ferramenta permite que, no estudo de seu personagem, o ator possa se colocar na mesma situação e entender o que ele faria “se” estivesse ali, gerando um nível de identificação maior.

O sistema Stanislavski também se utiliza das perguntas cruciais, motivadas ainda pelo “SE”: O que? Por quê? Como?. A partir delas, consegue-se chegar em qualquer expressão sentimental, pois essas perguntas nos apresentam um acontecimento, o motivo daquele acontecimento e como o personagem lidará com ele. E, através dessas perguntas, também conseguimos encontramos a força motriz do personagem, ou seja, o motivo para ele existir. Ela é extremamente importante porque nos trás a linha criadora - podendo talvez chamá-la de mãe, quem sabe - de sua existência. Para que tudo isso ocorresse, era fundamental que o ator parasse de pensar no resultado de sua atuação, ou seja, que deixasse de enxergar aquele ambiente como um “processo” ou um “trabalho”, e sim vivesse aquele ambiente. Parar de pensar no fim e encarar apenas as ações, uma a uma, é a chave para se viver o momento.

Além disso, o ator precisa ter em mente que o ambiente cênico é conjunto, e, por mais que exista um “protagonista” na cena, a cena só poderá existir em sua totalidade se todos estiverem fixamente ligados com seus personagens, sem que essa conexão se perca em um momento que este não esteja em evidência. Para Stanislavski, CORPO, RAZÃO E ESPÍRITO estão conectados em todas as suas instâncias, fazendo com que o ator convença o espectador quanto a realidade daquilo que se imaginou para a realização do espetáculo.

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